Nosso mundo tem milhões de anos, estamos aqui há milhares deles e pouca coisa é tão verdadeira quanto o fato de que tudo tem seu tempo certo. E, ainda assim, é enorme a quantidade de gente que ignora ou não respeita isso. Desde a pressa em ferver leite até o momento da maioridade para dirigir, não conseguimos aguentar a espera. Talvez seja impressão, mas a geração atual, criada e moldada em engenhocas eletrônicas com respostas cada vez mais rápidas, sofre mais intensamente com o momento exato da aprendizagem. Tudo acaba acontecendo antes. Precoces, amadurecem antes. Amadurecem? Tenho sérias dúvidas em relação à isso. Com certeza aprendem e experimentam quase tudo muito antes do que seus ancestrais. Ora, tudo o que existe para aprender está total e impunemente ao alcance da mão e das teclas. Um adolescente de 12 anos hoje domina muito mais informação do que qualquer adulto de cinquenta anos atrás. Isso é bom? Ruim? Não sou competente o suficiente para dar essa resposta. E, pessoalmente, acho que ninguém o é nesse momento. Ninguém sabe o que essa geração de velozes e furiosos digitais vai se tornar no futuro, menos ainda a de seus filhos. Mas tenho a impressão de que a precocidade informativa não foi eficiente para acelerar o processo de amadurecimento dos pobres infantes, muito pelo contrário. Formaram-se verdadeiros zumbis indolentes, na maior parte das vezes egoístas e incompetentes para dirigir qualquer coisa, menos ainda suas próprias vidas. Dependem dos pais para tudo, nem precisam chamar, já que os próprios se antecipam - cuidam da alimentação correta, do transporte, das dificuldades com os professores, das consultas de saúde, da hora de acordar, da volta da balada, escolhem e compram as roupas, dão palpites na profissão, compram até a vaga nas faculdades, se for necessário. Talvez o segredo não esteja na informação e sim no conhecimento. Se espremermos bem tudo o que passa pelas telas deles, é provável que não reste 5% de conhecimento minimamente utilizável para a vida prática ou teórica. E temos então uma cabeça portando um cérebro em final de formação, com 95% de sua capacidade funcional ocupada por lixo cultural e social, e miseravelmente desprovida de orientação superior, seja de pais ou professores.
Podemos observar algumas consequências em palestras e opiniões de especialistas no assunto. O aspecto que vejo mais comentado por eles até agora é a constatação de que está cada vez mais difícil para adolescentes e adultos jovens enfrentarem frustrações. Assunto recorrente em terapias, estudos e escolas. Pais condescendentes, amedrontados de perder o amor filial por despreparo e dificuldade de dizer não, afeto confundido com fartura, autoridade e responsabilidade abandonados pela pretensão da amizade, desencadeiam a desgraça da ausência prolongada, motivada pela busca incessante de poder material para prover as necessidades modernas, num círculo vicioso perverso, correndo atrás do rabo. Quanto mais abastecem, mais se ausentam, mais compensação material, mais trabalham. O pouco tempo que resta de convívio não querem desperdiçá-lo com educação, preferem amizade. Como consequência direta, ninguém educa ninguém. Como amadurecer assim? Aliás, quem quer amadurecer assim? Tudo na mesa, dinheiro no bolso, carro na porta, a média de idade para um filho ou filha se casar ou mesmo só deixar a casa paterna aumentou assustadoramente. Trinta e cinco, quarenta anos e eles ainda tomam aquele café da manhã com suco e iogurte que sempre gostaram. As nossas secretárias domésticas são mantidas intactas porque "já sabem tudo o que eles gostam..."
Amadurecer. Voltamos ao assunto inicial. Conceito que simboliza brilhantemente a tese de que tudo tem seu tempo. Na pressa, vai comer o fruto ainda verde. Se demorar demais ele apodrece. O amadurecimento tem seu tempo certo. A fruta é a filha da árvore. E precisa ficar doce para que os animais a comam e joguem a semente fora, que vai gerar uma nova árvore. Ficar doce é amadurecer. É ser preparado para seguir sua missão na vida e multiplicar a espécie. No tempo certo. Ficar em casa esperando apodrecer não é natural. Fugir das responsabilidades, dos obstáculos, das dificuldades, das frustrações, das porradas da vida independente não é saudável para a espécie. Enfrentá-las muito tarde pode ser desastroso, se por um lado muito mais penoso, já que deixam tardiamente um ambiente protegido e são jogados diretamente na arena, por outro muito perigoso, já que muitos não sobrevivem na luta. Atolam nos desvios das drogas ou perecem na fuga do suicídio.
Tive duas pequenas alunas a quem tentei ensinar por muito tempo: b + a = elas respondiam "ba" , eu então perguntava b + e = ?? - e elas, com os olhinhos bem abertos, esperavam pela resposta, sem ainda perceber o raciocínio. Demorou algum tempo para que elas descobrissem o mecanismo que as levaria ao "be". Finalmente um dia aconteceu, e foi lindo. Na hora certa delas, apesar da minha ansiedade. Desde então tento conter minha preocupação em relação a elas, sempre esperando que o tempo certo ainda não tenha acontecido. Hoje em dia não são mais pequenas alunas, já se tornaram seres viventes e quase independentes. Mas ainda derrapam e encalham em alguns obstáculos e sofrem batendo a cabeça nas portas fechadas. Nesses obstáculos o mecanismo do "be" ainda não engatilhou. Sofrem o martírio de tentar amadurecer num mundo onde seus amigos ainda estão na redoma. É difícil cair na vida e tomar porrada rodeado por gente totalmente abrigada de preocupações. A nós, só resta torcer de longe, sofrer junto e chorar escondido. E esperar.
Queria então aqui dizer a elas que amadurecer é, principalmente, aprender. No seu tempo certo. Através da leitura ou da conversa, não tem outro jeito. Alguns sábios já nos pouparam da descoberta desse caminho, pensando antes de nós, e nos deixaram as lições prontas. São ferramentas imprescindíveis para aprender. Gratuitas. Nesse caso, podem nos ajudar a vencer frustrações. O mundo sempre, inúmeras vezes, vai tentar derrubar você. Sua felicidade depende de como você vai assimilar estas frustrações. Aceitá-las como condição da existência. Segundo Sêneca, só começaremos a ser felizes quando aceitarmos que o mundo não gira ao nosso redor. Ele tem vida própria, muito diferente da que desejaríamos, praticamente nos ignorando e nos destruindo, se não tivermos aprendido a nos defender. Como? Entendendo esta ideia, desejando pouco e aceitando tudo que não podemos mudar. Existem apenas dois tipos de problemas na vida. Aqueles que podemos resolver e aqueles que não podemos resolver. Os primeiros devem ser resolvidos, sem procrastinações ou ansiedade. Vá lá e resolva. Principalmente sem ansiedade, acredite, o resultado será muito melhor. Os segundos devem ser aceitos, também sem ansiedade ou revolta, PORQUE NÃO VAI ADIANTAR NADA. ELES NÃO PODEM SER RESOLVIDOS... ACEITE!!!.
Mas o mundo não vai nos testar dentro de casa, do abrigo. Lembre-se, lá dentro o mundo foi construído para girar ao nosso redor. Fica então a escolha. Tudo nessa vida são escolhas. Qual o momento certo de se expor? Cedo demais? Tarde demais? Nunca? Fecho estas linhas com a incrível historia da águia que faz seu ninho na parede do penhasco. Clichê, mas incrível. Choca seus ovos e alimenta seus filhotes até o momento em que eles tem que aprender a voar. Sua única opção é empurrá-los do ninho, já que, conforme nossos adolescentes nos mostram, eles nunca sairão por si mesmos. E ela pode não ter uma segunda chance. Se empurrá-los cedo demais eles caem sem conseguir voar. Se demorar muito, eles podem nunca mais conseguir aprender. Ela então escolhe o momento, empurra e fica torcendo, de longe, sofrendo junto e chorando escondida.
Mas o mundo não vai nos testar dentro de casa, do abrigo. Lembre-se, lá dentro o mundo foi construído para girar ao nosso redor. Fica então a escolha. Tudo nessa vida são escolhas. Qual o momento certo de se expor? Cedo demais? Tarde demais? Nunca? Fecho estas linhas com a incrível historia da águia que faz seu ninho na parede do penhasco. Clichê, mas incrível. Choca seus ovos e alimenta seus filhotes até o momento em que eles tem que aprender a voar. Sua única opção é empurrá-los do ninho, já que, conforme nossos adolescentes nos mostram, eles nunca sairão por si mesmos. E ela pode não ter uma segunda chance. Se empurrá-los cedo demais eles caem sem conseguir voar. Se demorar muito, eles podem nunca mais conseguir aprender. Ela então escolhe o momento, empurra e fica torcendo, de longe, sofrendo junto e chorando escondida.