Uma das coisas que a gente costuma sonhar na vida é com a possibilidade de fazer algo grandioso, inventar alguma coisa genial, ser campeão de qualquer esporte, ficar famoso e ser reconhecido por ter melhorado o mundo. Tantas pessoas conseguiram e estes se tornam nossos ídolos. Nunca fiz nada do tipo e, passados os cinquenta, me conformo que nunca o farei. Mas tenho em mente o que teria tentado mudar se mandasse alguma coisa. Na verdade são várias coisas, mas vou falar agora sobre uma delas.
Tenho comigo que o progresso e o desenvolvimento desenfreado de nossa civilização nos trazem conforto e prazer como nunca antes experimentado, mas trazem também mudanças tão traumáticas e intensamente corrosivas para nossas vidas como também jamais nos foi infligido. Nossa evolução tecnológica nos obriga a ficar constantemente ligados e aprendendo novidades. Somos retrógrados, antiquados, dinossauros, se não nos atualizamos. Somos até brindados com escolas, muitas de nível superior, que nos ensinarão, com detalhes, tudo sobre aspectos os mais variados dessa corrida. Desde engenharias várias até coisas triviais como cozinhar, fazer ginástica, fazer massagem. Coisas que, por muito tempo, foram apenas habilidade manual, talento, dom, ensinadas de pai para filho e aprendidas na pura prática, hoje se aprende com detalhes e regras. Treina-se tudo. Para tudo existem estudos, teorias, métodos. Nada contra. Mas determinadas estruturas sociais pré-históricas de nossas vidas curiosamente se mantém à margem dessa fúria metodológica . Durante toda a vida dessa atual civilização três entidades pétreas do relacionamento humano se mantém amadoras, empíricas, ainda aprendidas na raça, no calor da experiência. Pois bem, essa seria minha contribuição para o mundo de hoje - a partir desta data haveria obrigatoriedade irrecusável de se fazer curso superior para as seguintes profissões :
POLÍTICO - desnecessário me alongar muito neste tópico. Auto-explicativo, evidente por si só. Talvez a estrutura social que MENOS tenha se desenvolvido com o passar do tempo. Todos sabem, todos falam, é consenso, mas ninguém se mexe. Continuamos com políticos de péssima formação moral, que corrompem os recém-chegados inebriados com alguma ideologia, esmagando-os com um sistema de cooptação poderoso e hermeticamente fechado. Um sistema que é usado, também com bastante eficiência, em nosso sistema judicial-penitenciário. Quando a gente fica mais velho começa até a pensar em entrar para a política. Muitos dizem que, se os bons não entrarem, ficam só os ruins. Tem lógica, mas prefiro realizar a poda através da capacidade intelectual gerada pelo conhecimento. Se existe uma escola que me tornará um excelente político, por que confiar apenas nos meus belos olhos ? FACULDADE NELES !
MARIDO E MULHER - esse relacionamento, o mais antigo que existe, está evidentemente desmoronando. O índice de separações e a tendência de postergação do casamento entre os jovens mostram que pouca gente mais tem certeza de que quer se casar. Minha opinião vai ainda mais longe. Poucos tem alguma noção, aos vinte anos, do que seja casamento. Medo de perder todas as oportunidades, viajar, namorar quanto puder, ser dono do próprio nariz. Gosto dela mas vou ficar preso. Tanto para se fazer. Gosto dele mas não posso abandonar minha carreira agora.
Nesse aspecto tenho um raciocínio que algumas vão considerar machista. Mas não é. Penso ser apenas realista, constatar os fatos. A nossa vida moderna mudou muita coisa, mas talvez a maior transformação de todas tenha acontecido na vida da mulher. Durante séculos a vida matrimonial foi mantida no ringue dos papéis bem determinados da figura masculina e feminina. Não estou dizendo que era correto, apenas que era determinado. Apesar de muitos defeitos, todos sabiam o que deles era esperado. Geravam muito sofrimento, angústia, frustração. A sociedade machista secular determinava as regras e todos a cumpriam, bem ou mal. Os casamentos duravam até a morte, as crianças se mantinham no clã até criarem as suas próprias famílias e as mulheres se submetiam em benefício do todo. Quando chegavam a velhice comentavam que havia valido a pena o sacrifício, pois seus filhos estavam criados e prontos para o mundo. Nas últimas décadas, muito justamente - imperioso dizer, a mulher perpetrou uma revolução nunca vista nos costumes e na vida social. Reclamou para si o direito sagrado do trabalho, da independência, da vontade, da escolha de seu próprio destino. Saiu detrás do fogão e da máquina de costura para a diretoria e presidência de multinacionais. Está dirigindo caminhões e onibus, motoniveladoras, lutando boxe, nos ministérios, nas fábricas, fazendo negócios, no Congresso, dirigindo os destinos de países como o Chile e a Alemanha, aconselhando o Presidente dos E.U.A. Fizeram um trabalho fantástico. Ainda sentem alguma discriminação, mas tudo ainda é novidade e deve ser apenas resquício de ressentimento e algum grau de ciúme e inveja. Muito bonito. Mas, como tudo tem o seu outro lado, o processo deixou alguns pontos descobertos. Apesar de eternamente desprezada, diminuída pela arrogância masculina de então, o papel da mulher como dona de casa e mãe em tempo integral era absolutamente essencial para os moldes do casamento como o conhecíamos. Tudo na casa girava em torno dela. A essência era ela. O pai era apenas a cereja do bolo, a personificação da lei, da rigidez, da ordem. O afeto, a diligência, os detalhes, a educação, os cuidados de saúde, enfim o AMOR da casa dependia dela. Desculpe minha opinião machista mas, como homem, sempre tive uma ponta de inveja do relacionamento de mãe e filho(a). É muito diferente. Nunca vai ser igual, a não ser que a mulher continue nessa trajetória burra de tornar-se apenas outro pai.
Assim, esta mudança de atitude está criando na estrutura familiar uma certa confusão. Algumas mulheres tentam o impossível. Vida própria, casa, mãe e mulher. Coitadas, tenho uma certa pena, já que sou bastante preguiçoso. É trabalho pra caramba. Resultado ? Tensão, agressão ao organismo, fibromialgia. NOT POSSIBLE, na minha humilde opinião. Outras, inebriadas pela descoberta dessa vida independente, se transformam no segundo homem da casa. E, muitas vezes, melhor que o próprio. Alguns deles, inclusive, se recolhem ao lar trocando REALMENTE de função. Talvez até funcione melhor que as outras opções. Mas o grupo mais encontrado em nossos dias talvez seja aquele no qual existem duas figuras ausentes da casa e da família, estando estas abandonadas à responsabilidade da empregada doméstica, categoria recém promovida a esteio do lar. Infelizmente as domésticas ainda fazem parte das atividades que TAMBÉM não são formadas com faculdade, assim a família continua sem direção adequadamente habilitada. Juntamente com isso, assistimos ao surgimento de uma classe de figuras masculinas TOTALMENTE PERDIDAS com a debandada feminina. Tem marido que apoia irrestritamente, tem marido que chia, poucos ajudam, muitos se assustam e se sentem ameaçados. Quase sem exceção é gerada uma situação altamente instável, fervente, movediça. Afinal, ninguém foi efetivamente treinado ou preparado para isso. Portanto, FACULDADE PARA O CASAMENTO !!
Como ? O que vai ser ensinado ? Como resolver o problema ? Desculpe-me a modéstia, mas acho que sei pelo menos o rumo da solução. Casamento não é uma prisão, um compromisso, uma obrigação. É apenas a celebração da vontade de duas pessoas de ficarem juntas por um tempo infinito enquanto dure. Qualquer que seja a combinação entre elas. Um meio termo equilibrado é possível e desejado. Acho que vai acontecer, com o tempo. Mas depende de um segredo. O segredo é lembrar de uma coisa que estamos esquecendo. De novo o progresso nos dá, a cada dia, a sensação de que podemos tudo. De que podemos estar aqui e ali, fazer de tudo, experimentar de tudo. Realmente, nossas opções aumentaram muito. Mas estamos muito arrogantes. Extrapolamos. Queremos REALMENTE tudo. Pobres de nós. Pobres mortais de ridícula soberba. Podemos trocar de roupa, de carro, de casa e até de país em pouco tempo. Mas estamos irremediavelmente restritos, COMO SEMPRE ESTIVEMOS, a ESCOLHER. Passaremos a vida inteira tendo que escolher nosso destino. e, quando escolhemos um, não temos o outro. É simples assim. Se escolhemos este, não podemos ter o outro. A felicidade está na paz de espírito e a paz está na aceitação da escolha.
PAI/MÃE - consequencia direta do anterior, ser pai atualmente está uma barra. Filhos derivados da família anteriormente descrita, unida ou não, são figuras carentes, inseguras, inacreditavelmente espertas pela infinidade de estímulos sensoriais disponíveis irrestritamente pelos irresponsáveis e cruelmente deixados à deriva em todo o seu processo de formação moral e intelectual. Assistimos ao abandono total da formação do caráter, privilegiando-se o bem material, o prazer, a indolência. Detestam o menor esforço, a menor dificuldade. Caminham acompanhando a boiada barulhenta com rumo totalmente desconhecido. Pelo menos para eles. Chegam a adolescencia com nenhuma noção de vida real, embalados e anestesiados por pais pouco preparados, preocupados apenas com o suporte material, eles também afundados num mar de bossalidade onde grassa a ausência de princípios morais e filosóficos. Nem têm muito o que ensinar, eles que também não foram bem ensinados. Mesmo que tenhamos noção desse cenário, nossos filhos convivem diariamente com esses filhos. Como fazê-los estudar quando os colegas não o fazem ? Como dizer que, quando não mais estiverem conosco, a vida vai maltratá-los se não estiverem preparados ? Como fazê-los entender que esta preparação requer esforço, sacrifício, que nada vem de graça, que o mundo esmaga os fracos, que a vida não é só prazer de se fazer apenas o que se tem vontade ?
Tive um técnico de futebol ainda dente-de-leite que nos dava a camisa e dizia : Vamos lá e dêem o melhor de vocês. Só isso. Muito legal com a gente, mas perdemos quase todos os jogos do campeonato. Penso então no técnico Bernardinho, do vôlei. Sujeito nervoso, a seleção detonando o adversário e ele gritando e brigando com os jogadores. Nunca está satisfeito. Mas ganha quase tudo.
Passei boa parte da minha experiência como pai ouvindo de meus filhos reclamações, queixas de que nunca acho que está bom. Como pai, meus filhos são os melhores do mundo. Eles não acreditam quando falo isso, mas falo de coração aberto. São fantásticos e pobre do pai que pensa diferente. Mas lembro-me de meu pai, que também poucos elogios me fez durante a vida. Ele entendeu, e me ensinou, que não somos apenas pais mas também técnicos. Temos que prepará-los para a vitória. Por mais que soframos com os atritos constantes, não podemos decepcioná-los. Brigaremos até o fim. Quando finalmente eles estiverem lá e nossa missão tiver terminado, teremos a recompensa de poder dizer diariamente a cada um deles como eles são melhores do que nós. Pena que não tive a chance com o meu pai.
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