A inspiração para escrever minhas reflexões em forma de blog me foi dada por um de meus sobrinhos. Sujeito capaz, leitor voraz e eclético, tem seus pensamentos espalhados na net já há bem mais tempo. Numa produção muito mais profícua, quase diária mesmo, mistura observações, as mais sortidas, sobre o mundo atual, englobando economia, política e artes, com tocantes desabafos de algumas agruras pessoais, como todos temos. Corajosamente, como aquele que não tem o que temer. Cresce-me o orgulho e a admiração apenas por esse aspecto. Na maioria das vezes, entretanto, destila comentários flamejantes contra governos, instituições e figuras do mundo cosmopolita acrescidos de suas impressões pessoais sempre carregadas de entusiasmo. Não se pode dizer nunca que tenha ficado em cima do muro. Convicções fortes. Preferências marcadas. Quarenta anos antes e provavelmente estaria marchando ou atirando ovos de um lado para outro da Rua Maria Antonia como, reza a lenda, seus pais estiveram. Quem conhece a mãe sabe que ela deve ter ficado mais assistindo, porque correr dos guardas não seria possível. Genético? O interesse pelo saber com certeza. Confesso, no entanto, que meus parcos conhecimentos de atualidades , principalmente políticas, e a crescente falta de interesse em obtê-los, me permite pouquíssimos comentários em suas resenhas. Nenhuma falta faz, pois seus seguidores são inúmeros e fiéis. Mas gostaria de escrever algo a respeito de sua frustração, algo recente, esperando por um herdeiro que nunca vem. Não que eu tenha a solução, quem me dera. Sou, conforme já escrevi, partidário do ditado popular ( anônimo ? ) de se escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho para nos tornarmos completos. Nunca me havia passado pela cabeça a idéia de como seria se não me fosse dado esse privilégio. Sou, como todos os idiotas mortais humanos, pretensioso a ponto de nunca ter pensado seriamente nisso. Já que os tive até precocemente, e tantos são os que os tem até impunemente, poupei-me todo esse tempo de sofrer com a elaboração desta perda. Hoje, pensando em vocês (na sua princesa também, lógico), eu percebi que também teria magoado. Determinadas situações não admitem grandes frases de consolação, ou, pelo menos, não sou competente para arriscar. Ter filhos é um saco ? É, mas também é muito legal. Impossível negar que um casal como vocês seriam pais incomparáveis. Nem vou me meter a dar conselhos. Um sujeito esperto e sagaz como você vai perceber as possibilidades muito antes que eu. Torço apenas para que seja algo que possa ser consertado. Tanta coisa acontecendo nessa área atualmente. Se não, digo-lhe apenas onde me apoiaria, como já me apoiei em situação anterior. Nossa vida não é realmente nossa. Nos foi dada por alguém. Incrivelmente poderoso e, às vezes, incrivelmente cruel. Cabe a nós decidirmos o que fazer com ela. Venha do jeito que vier, temos que nos adaptar. Para o bem ou para o mal. Jogue-se do viaduto ou abra um sorriso e dê um grande beijo nessa mulher fantástica que aconteceu pra você, companheira de tantas aventuras, fiel, amorosa, e que vai aguentar firme o tranco se você aguentar também. Na minha vez eu sofri um tempo, mas resolvi aceitar que alguém manda mais do que eu. Levantei, chacoalhei a poeira e toquei o pau. Metade de mim ficou pra trás, aos pedaços. Mas a vida me deu novas partes e eu continuo indo. Existem milhares de filhos para serem cuidados nesse mundo, sob a forma de pacientes, seguidores de blog, amigos, parentes, mendigos, alunos, ou, porque não, crianças a serem acolhidas. Espere apenas o coração parar de doer. Não se faz nada sob pressão.
Para terminar, não para consolo, deixo algo que ocorreu num destes finais de semana.
Menina linda, dezenove anos, filha de médico em cidade do interior, segundo informações colhidas nunca deu problemas. Para alegria dos pais, passa no vestibular para medicina em outra cidade do interior. Muda-se para lá e, ainda segundo informações fidedignas, frequenta as aulas assiduamente, estudando e dedicando-se com afinco. Já há seis meses na escola, não vai para casa todos os finais de semana. Numa quinta à noite, seguindo a tradição de qualquer estudante universitária, vai com algumas amigas a uma festa numa chácara. Ainda seguindo a tradição, toma mais do que deve, hábito que parece estar cada vez mais arraigado na atual juventude. Pouca noção de limite, é o que se percebe. Começa a rolar na tal chácara uma parada nova, para mim até então desconhecida. Descobriram uma buzina de automóvel ( ou será de moto ? ) que, se destampada, expele uma pequena quantidade de gás com potencial alucinógeno. Quem diria, agora estão cheirando buzina de carro. A garota, talvez já meio alta, cai na bobagem, tão ingênua quanto traiçoeira, de ceder e experimentar. O efeito é imediato e ela desmaia. Os colegas, assustados, tentam reanimá-la e ela parece voltar um pouco a si. Estava viva. Atropeladamente colocaram-na num carro e voaram para chegar rapidamente ao hospital, dez quilômetros dali. Por infelicidade, a jovem estudante, ironicamente de medicina, já chegou sem vida. Todos aceitaram a tese da overdose. Mas, para desespero posterior, a autópsia revelou que ela não havia morrido pela droga. Durante o trajeto, na pressa explicável de se chegar logo ao hospital, ela tinha sido deitada no banco de trás do carro, cabeça para cima. Como tantos ébrios conhecidos, vomitou algo comido naquela festa. Por ação cruel da gravidade, associada a seu estado de torpor acentuado, não teve forças nem reflexo para virar de lado. Aspirou o conteúdo para as vias respiratórias e morreu silenciosamente por asfixia.
Não consigo imaginar porque um pai e uma mãe tenham que passar por isso. Não consigo e não quero me imaginar passando por isso. Sei que o chefe é poderoso e que temos que aceitar o que vier. Mas, algumas vezes, ele exagera.
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Agora me surpreendi, não sabia ter sido a inspiração deste blog, nem sabia que era lido aí nessas bandas...Que bom saber!
ResponderExcluirQuanto ao meu problema, estamos preparados para o que der e vier. Mesmo que não estejamos, é bom pensar que sim.
Há, como você bem sabe, muita gente com surpresas muito mais ingratas do que essa, e não cabe a nós tentar explicá-las...
Obrigado pelas palavras.
Abraço
Mamãe vai amar aquela observaçãozinha sobre correr dos guardas...
ResponderExcluirObrigada Tio João pelas palavras e pelo carinho por nós dois.
ResponderExcluirA frustação, seja ela por qualquer motivo, não é fácil de encarar, mas tb aprendi que só consigo comandar uma parte de minha vida, e que os reais motivos das coisas acontecerem como elas acontecem, eu só conhecerei com o tempo!!
Um super beijo e muita saudades de todos...
Ju