terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A LAMPARINA, A BÚSSOLA E O CAVALO

Tive mais um sonho. Desta vez horrível. Sonhei com a morte. Duas princesas. Dois sonhos diferentes. Acordei em prantos, com ela em meus braços, eu pedindo pra que ela nunca se esquecesse que , bem , deixa pra lá. Não quero começar a chorar de novo.

Tenho três filhos. Piegas falar que são lindos. Mas são. São tudo. Junto com a mãe, ocupam praticamente todo o meu coração. Não tenho outra coisa pra fazer na vida do que cuidar deles. Faço meu papel de pai, oriento, ensino, brigo enquanto há tempo. Tudo pra tentar fazer o caminho mais fácil. Mas, naquela hora, eu tive aquele estalo que me torturou depois de acordado. Você talvez tenha sido um bom pai no quesito educar, orientar, cuidar. Mas você contou pra eles o quanto os ama? Eles sabem disso? Sabem o quanto são importantes pra você, o quanto você tem medo de que algo lhes aconteça, o quanto você tem medo de ficar sem eles? A resposta foi essa. Torturantemente não. Não sei fazer bem isso. Vou fazê-lo sem falta quando o dia raiar, e elas acordarem. Mas tenho certeza que, com o passar do tempo, vou deixar de fazê-lo todos os dias. E então, lá na frente, muito ou pouco, vou me arrepender de novo. Por ter esquecido ou deixado pra outra hora. Então acordei e decidi deixar aqui escrito. Talvez eles nem olhem, com certeza não todos os dias. Mas estará aqui escrito, com medo e lágrimas, vindo do que de melhor existe em mim. Nada nesta vida tem importância maior para mim do que vocês. Posso ter passado a vida fazendo coisas que parecem estar muito distantes disso. Mas podem ter certeza que não. Qualquer coisa que vocês pensarem agora teria sido interrompida imediatamente por um chamado de perigo, de socorro, de ajuda.

O primeiro foi sempre um príncipe. Sangue nobre, educação, estilo, finos modos. Dito assim parece afetado. Mas não. Como a mãe, consegue ser tudo isso de maneira irritantemente natural. Convive com a plebe ignara flatulenta e desbocada sem se contaminar, mas também sem se segregar. Às vezes penso que não tem nada de mim. Nem fico triste porque fez melhor negócio puxando pela mãe. E o mais incrível é que isso aconteceu sem a convivência. Veio no sangue mesmo. Mas, o que de melhor ele recebeu dela foi essa capacidade de detectar caminhos. Enxergar mais longe que os outros, entender de relance cada situação, analisar o que está em cada comportamento, cada reação. E traçar o rumo mais coerente, de mais bom senso. Torna-se aquela pessoa que sempre vale a pena consultar quando se está perdido.

A segunda é a princesa. Na mais pura acepção da palavra. Desperdiçada nessa vida plebéia, assenta-lhe muito melhor um palácio. Linda, iluminada, irradia luz. Perto dela a vida fica essencialmente bela, as coisas são coloridas, o mundo sorri. Não nasceu para ficar triste nem sofrer. Poderia e deveria ter o nome da avó, "alegria da vida". Tenho a certeza de que veio para iluminar o caminho, para mostrar a beleza de tudo. Quem me conhece sabe que isso não veio de mim. Veio também da mãe. Minha concepção pessoal é mais bruta, sou o boi que carrega o arado. Preciso delas para enxergar o belo. Muitas vezes eu não enxergo nem isso direito. Mas elas trazem a alegria em nossas vidas.

A terceira é a guerreira. Forte, companheira, escudeira fiel. Pronta para vencer desafios. Às vezes voluntariosa, impaciente, teimosa. Mas, no fundo, extremamente meiga, preocupada, amorosa. Seu coração é enorme. Sua têmpera é de aço. Sua energia é imensa. Acho que tem um pouco de mim. Pra sua sorte ou azar, não sei. Mas tenham os outros esta certeza. Se um dia vocês estiverem em algum buraco sujo, presos numa armadilha ou afundando em areia movediça, é ela quem vai chegar primeiro, sempre. E é provavelmente ela quem vai tirá-lo de lá.


Meus filhos, não se esqueçam nunca disso. Vocês são minha vida e eu amo muito vocês. Deus há de me dar a graça de sofrer o que senti hoje apenas em sonhos ruins.

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