segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A ÁRVORE DA VIDA

Gabriel Garcia Marquez, em seu livro "O amor nos tempos do cólera" dizia que o suicídio só se justifica quando for por amor. Como em qualquer pensamento literário, cada um interprete lá a sua maneira. Eu criei a minha. Nada a ver com as vias de fato. Tenho conceito bem formado a respeito dessa ideia. Não considero mais o suicídio uma opção válida em meu arsenal de ferramentas para uso na vida. Sinto-me à vontade para falar disso, já dei muito tempo meu em reflexões sobre o assunto e, principalmente, já estive lá. Não com a arma na mão, mas com a decisão feita. Desde então, após voltar atrás, formei meu conceito do que Marquez havia escrito. Nada de literalidade. O suicídio real é apenas uma fuga. Covarde. Arrogante. Burra. Indesculpável, mesmo que por amor. O cara que se mata é alguém que não entendeu nada. Acha que pode, que tem o poder. Acha que assim consegue se vingar de quem o machucou. Acha que a palavra final é dele. Se a reencarnação for realidade, e o cara tem que voltar tantas vezes quantas necessário para alcançar um grau mínimo de maturidade, o suicida não chega nem a entrar na fila. Volta nos calcanhares antes mesmo que o corpo esfrie. Começa tudo de novo, do zero. Merecidamente, diga-se.
Mas entendo o processo de elaboração de luto, que chamo de auto-suicídio. Você mata o seu eu anterior. Concordo com ele que deve acontecer apenas por amor. Ele não tem mais motivos para viver, já que só concebia a vida juntos.  Não há nenhum outro motivo de nobreza suficiente. Apenas pela perda de um grande amor. Aquele inexplicável por palavras, aquele que só quem vive sabe identificar. Se você se pergunta se está vivendo um grande amor, continue procurando. Quem está não precisa perguntar. Você sabe exatamente quando ele começou. Aquele momento quando sua vida anterior, suas ambições, planos, sonhos, deixaram de existir simplesmente porque foram sobrepujados, ultrapassados por algo mais. Não existirá mais eu, a partir de agora somos nós. Piegas sim, mas real para quem esteve lá. É na perda desse amor que Marquez aceita o suicídio, e eu entendo o auto suicídio. Quando perdido, perde-se o rumo. Corta-se as duas pernas em um só golpe. A queda é imediata, brutal, cruel. Não há opção para quem fica. Não há motivo que justifique a vida, não há graça mais nela. Temos que morrer junto. Aquele parceiro que ficou a ver navios não vai mais entender nem aceitar continuar vivendo. Deve morrer também. Ao menos em parte. Não deve morrer de todo. Isso seria fugir, seria querer ter o poder de decisão, é arrogante. Deve ficar um broto, uma muda de vida, que deverá ser cuidada, regada com infinita paciência e dedicação. Raquítica no começo, não se interessa por água ou comida. Quer morrer também. Mas não pode nem deve. Queira ou não, tem vida. E deve vivê-la. Outra planta, diferente, talvez transplantada até para outro lugar, se necessário. Mas vai viver. Precisa viver. Humildemente, aceitando essa vulnerabilidade existencial, ela vai descobrir que deve apreciar essa nova vida, com os mesmos princípios e valores que sempre usou para ser feliz antes. E, aos poucos, vai compreender que existem outras, várias vidas. Tantas quantas o responsável por essa experiencia o desejar. Vários caminhos que devem ser percorridos enquanto tivermos a oportunidade. E nos descobrimos nos auto suicidando em cada pequena mudança, em cada escolha. Morremos um pouco e nascemos do outro lado a cada nova encruzilhada. E, a cada nova decisão, aprendemos. Amadurecemos. E apreciamos cada vez mais as novas experiencias e choramos cada vez menos as perdas. Aprendemos a perder...

P.S. - post escrito há muito tempo, apenas finalizei agora. 

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