domingo, 11 de fevereiro de 2018

REVISTA CONTIGO

Viva!!  Após seis longos anos de inatividade e ausência, eis que me sinto novamente inspirado a  expressar minhas mazelas nestas páginas. Sempre motivado por conflitos que me são complicados na sustentação oral. Ergo frequente e exageradamente a voz, me perco na retórica e, muitas vezes, saio da linha principal com agressões verbais vulgares e desnecessárias. Péssimo advogado de tribunal, claro. Portanto, vamos tentar por aqui. Escrevendo e pensando cada palavra, uma por vez. Corrigindo o tom sempre que necessário.   
Revista Capricho, Contigo, Caras, etc. Dou este exemplo quando quero descrever aquele tipo de raciocínio desprezível e rasteiro da psicologia de boteco, das igrejas evangélicas e dos livros de auto ajuda barata,  quando são usadas duas expressões às quais abomino, que são "querer é poder" e "lute pelo seu amor". Ah, meu Deus, ai ai ai, quanta arrogância. Expressões que até podem ser entendidas em determinados contextos bastante específicos, quando talvez a letargia e a timidez estejam minando as chances do caso evoluir bem. Mas nunca podem ser usadas como leis gerais. Querer é poder me lembra a frase infeliz da Constituição Federal de 1.988 onde se lê : A saúde é direito de todos e dever do Estado. Ora, quem lê isso sem contexto, e praticamente todo mundo o faz, inclusive o Poder Judiciário, extrai a ideia de que o Estado vai lhe proporcionar obrigatoriamente tudo o que for necessário para sua saúde totalmente de graça. Ou não? Quem tem um mínimo de conhecimento da área, dos incríveis avanços tecnológicos mais recentes (eficazes ou não, diga-se de passagem), sabe que os custos são proibitivos para qualquer governo assumir completamente. É a base da enorme ineficiência atual do SUS,  obrigado a fornecer insumos e procedimentos extraordinariamente dispendiosos a quaisquer cidadãos que ingressarem com as medidas judiciais pertinentes (geralmente abastados o suficiente para conseguir com conhecimento e advogados especializados), enquanto milhares de pessoas mais necessitadas são privadas de tratamentos simples porque tais procedimentos são pessimamente remunerados e existem poucos abnegados que tenham interesse neles apenas pelo amor à arte. Querer é poder vai exatamente na mesma linha. Quero muito visitar a Lua. Quero cantar como Elis Regina, tocar violão como Almir Sater, ser rico como Bill Gates. Ora, mas o dito não pode ser entendido ao pé da letra. Bom, então não serve, deve ser mais específico, quem o vai usar é a plebe ignara, e ela vai entender ao pé da letra.
Chegamos então ao "lute por seu amor". A gente luta pela vida, pelo pão, pela saúde. Quem acha que tem que lutar pelo seu amor já o perdeu faz tempo... Na verdade, novamente o contexto, o ditado quase sempre está sendo usado para "lute pelo seu relacionamento, pelo seu namoro, pelo seu casamento..." Lute pela sua situação social, em outras palavras. Aí sim, podemos entender um pouco melhor. Fica mais real. Não deixe escapar seu contrato... Mas aí a coisa fica muito menos glamorosa.  Parece uma atitude de sobrevivência social. O que, de fato, é. Ninguém luta pelo amor. Amor é uma coisa que acontece, baseado em fatores tão diversos e imprevisíveis que seria muito tolo tentar mantê-los sob controle. Tentar controlar o celular, não deixar isso e aquilo, ficar seguindo, indagando, fazendo, enfim, o papel ridículo de alguém sem qualquer confiança de que seja a pessoa eleita pelo parceiro como aquela a quem ele escolheu para viver, só demonstra que ela realmente não tem as qualidades necessárias. Pelo menos para mim.
Ah, mas podemos cair em tentação, quanto mais pudermos evitar, menos teremos que chorar depois. Até concordo, nosso contrato social, no campo sexual, é bastante controverso. O homem, como espécie, tem no macho um predador que tende a espalhar sua genética para o maior número possível de fêmeas, como instinto de manutenção de um clã confiável e forte. As fêmeas procuram machos fortes para gerar e proteger sua prole. Instintivamente, portanto, a monogamia seria apenas feminina. Talvez assim o entendam os muçulmanos e os mórmons. Mas o contrato social da civilização ocidental através dos tempos sempre foi eminentemente monogâmico. Assim, quando formalizados os pares através do contrato de casamento ou, atualmente, união estável, os instintos masculinos deverão ser domados e dominados em prol da convivência harmônica do casal. Aí começa a bagunça. Não devo estar muito longe da verdade quando digo, baseado em observação pessoal, que a imensa maioria dos casais existentes em nossa sociedade, sobrevivem mais pelo contrato do que pelo amor. Nesse contexto, brecar o instinto se torna cada vez mais complicado. Em nosso mundo atual, onde a palavra, o fio do bigode, o compromisso e os princípios são, cada vez mais, conceitos etéreos, acadêmicos, onde o que vale mesmo é o hedonismo em sua forma mais vulgar, o prazer sexual masculino emerge como fonte inesgotável de experiencias e, consequentemente, de encrencas no lar. Apenas para piorar, a mulher atual, em sua rota recente de masculinização,  resolve deixar a posição passiva de se embelezar e esperar pacientemente atrair alguém supostamente melhor que seu parceiro atual, e começa a agir de maneira ativa, abordando com maior desenvoltura os possíveis candidatos. Daí, provavelmente e para completar a absoluta mediocridade da coisa, vem a atitude da parceira legal, indefesa e ameaçada, de "lutar pelo seu amor"... Ora, esse amor que cai nessa esparrela não é seu amor. Pode ser seu marido, seu namorado, seu "união estável" , mas não é seu amor. Reconheço que na maioria dos casos não é amor mesmo. Mas aí, a discussão é outra. Vale a pena ficar juntos apenas pelo contrato, pelos filhos, pela situação social? Cada um deve procurar sua resposta em si mesmo, em seu relacionamento. No caso de seu amor ser realmente seu amor, ele vai ser imune a tais investidas. Não porque ele não tenha vontade, lembrem-se do instinto... Mas porque, quem ama mesmo, já escolheu seu caminho. E, enquanto durar esse amor, esse caminho vai ser respeitado. Independe da atitude de terceiros. E, se esse caminho for desrespeitado, esquece, seu amor acabou. Fica o contrato e, novamente, você pode sim lutar por ele, mas é uma atitude puramente social. A meu ver, pobre e digna de pena. Tenho uma grande reserva com aqueles que tentam sustentar o insustentável, como se não tivessem capacidade para serem indivíduos, independentes e capazes. Uma união é feita de dois indivíduos, com princípios e limites, uma verdadeira simbiose e não de seres parasitas, que se não forem alimentados pelo outro perecem.
Chego aos cinquenta e nove anos em breve, e tenho algumas coisas das quais me orgulho. Convivo diariamente com a sociedade retratada nas linhas acima. Confesso que minha escolha foi mais difícil no começo, briguei um pouco para ser uma exceção (também posso estar enganado, muitos falam coisas que talvez nem façam, só para ficar bem nessa fita social hipócrita). Mas hoje, e já há muito tempo, sou tranquilo em relação à isso. Tanto por mim quanto por ela. Passei muito tempo achando que um dia aconteceria comigo, sou um eterno pessimista, quero sempre estar preparado para o pior. Mas nunca entrei nessa de tentar proibir, vigiar, controlar. Que sera sera... Mas gostaria que fosse recíproco. Afinal, não adianta nada...


P.S. - Ai, ai, depois de ficar animado e gastar massa cinzenta tentando retomar os posts, a gente lembra que tudo aquilo falado acima já foi dito, e de maneira muito mais bela e precisa, por um de nossos ídolos. Segue abaixo a obra prima....



Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento antes,
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto,
E rir meu riso e derramar meu pranto
ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
quem sabe a morte, angústia de quem vive
e quem sabe a solidão, fim de quem ama,

eu possa me dizer do amor (que tive):
que não seja imortal, posto que é chama
                 mas que seja infinito enquanto dure.











 

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